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Editorial: 100 dias de Roberto de Araújo em Avaré

Quando deixou o prédio da Câmara de Avaré após assumir o cargo de prefeito, Roberto de Araújo foi até o Largo São João e registrou a volta da iluminação da Fonte das Artes como seu primeiro ato de governo. Começava ali uma trajetória que, nesta semana, completa 100 dias.

A data tem valor simbólico: é tradicionalmente usada por analistas políticos e pela imprensa para avaliar o estilo do novo governo e antecipar o que se pode esperar dos próximos anos. Também é um marco que fortalece a cobrança popular sobre as promessas feitas durante a campanha eleitoral.

Ciente dessa expectativa — consagrada desde a era Roosevelt —, a maioria dos gestores busca apresentar uma agenda positiva nos primeiros 100 dias, com ações que indiquem mudanças e apontem novos rumos.

Roberto Araújo seguiu essa cartilha. Começou com a reiluminação de um importante símbolo histórico de Avaré e, desde então, tem apostado em gestos simbólicos e de forte apelo popular: foi duas vezes a Brasília, subiu em um poste para cobrir um radar, dirigiu uma máquina para cortar grama e almoçou a merenda escolar dos alunos da rede pública. E quem não se lembra da Medalha Três IS, dadas pelo ex-presidente Bolsonaro. “Imbroxável, Imorrível e Incomível”

Mas, por trás dessas ações visíveis, há aspectos menos celebrados. Dentro do Paço Municipal, a pressão por cargos comissionados pautou as decisões administrativas. Em março, a folha voltou a registrar aumento no número de nomeações. A estrutura do governo também inchou: o número de secretarias municipais coloca Avaré entre os municípios com mais pastas do Brasil.

Além dos salários de novos secretários e servidores, a ampliação da máquina gera altos custos administrativos. Um exemplo é a locação de um imóvel para abrigar quatro novas secretarias — Gestão Pública, Segurança Pública, Inovação e Tecnologia, e Juventude — esta última ainda sem titular nomeado. Outro imóvel locado, na rua América, vai atender a secretaria de Esportes.

Entre os servidores efetivos, o desânimo cresce. O aumento do número de cargos comissionados afasta, mais uma vez, qualquer perspectiva de valorização salarial real, acima da inflação. Na Garagem Municipal, os comentários são recorrentes: “Muito chefe para pouca mão de obra e equipamentos”. A mesma frustração é sentida entre os aposentados, que acumulam queixas após anos de serviço à cidade.

Nos primeiros 100 dias, a Prefeitura de Avaré firmou 16 contratos, todos listados no Portal da Transparência. Desses, nove foram por dispensa de licitação, seis por inexigibilidade e apenas um via pregão eletrônico. Entre os valores mais altos, estão os mais de R$ 4,6 milhões para a coleta de lixo, em contrato emergencial de seis meses, e R$ 5,8 milhões para a alimentação escolar — também sem licitação e sem concorrência.

Enquanto isso, o mato cresce, os buracos se multiplicam, a saúde enfrenta dificuldades e o mercado de trabalho continua desaquecido. No Plano de Governo, Roberto Araújo apresentou dezenas de promessas. Ainda é cedo para avaliar o cumprimento delas, mas ao menos o Conselho de Gestão do Governo Municipal — proposto como medida de participação e transparência — já poderia ter dado sinais de funcionamento. Assim como o combate as enchentes.

As viagens a Brasília e São Paulo mostram algum esforço de articulação, mas não podem ser tratadas como feitos extraordinários. Ir em busca de recursos é obrigação básica de qualquer gestor. Em Avaré, no entanto, essas idas têm sido tratadas como sinônimo de competência. É preciso cautela: sem o Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP), os repasses não chegam e os projetos não saem do papel. Interlocutores próximos dizem que o problema é simples de resolver — mas, em 100 dias, nada foi feito.

O mesmo vale para os mutirões de capina. Cortar o mato aqui e ali também é dever rotineiro da Prefeitura, mas tem sido exibido como grande conquista. A iluminação, em alguns pontos já com lâmpada de LED, continua falha. Em alguns locais postes apagados durante a noite, em outros postes acesos durante todo o dia.

A gestão pública exige planejamento e responsabilidade fiscal. Agir como um chefe de família que tenta resolver a crise aumentando os gastos pode até parecer nobre, mas é perigoso. E os sinais de alerta estão dados.

Nas redes sociais, o termômetro está aceso. De um lado, os defensores — em sua maioria ligados à administração. Do outro, os críticos — que convivem com os problemas do dia a dia, nos bairros, nas filas dos postos de saúde e nas ruas esburacadas.

Ainda há tempo para ajustar os rumos. O que será feito a partir de agora vai dizer muito mais do que os 100 primeiros dias.

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